sexta-feira, 11 de maio de 2012

Desenvolvimento ao longo da infância e adolescência (Parte II)

Nesta publicação vamos dar continuação ao estudo do tema "Desenvolvimento ao longo da infância e adolescência". No post anterior focamos essencialmente o desenvolvimento motor e sensorial do recém-nascido, agora vamos concentrar a nossa atenção num dos períodos mais críticos do desenvolvimento humano: a adolescência.
A adolescência foi durante muito tempo associada a acontecimentos meramente biológicos. Adolescência e puberdade representavam sensivelmente a mesma coisa. Atualmente a entrada na adolescência é de facto marcada pelo inicio da puberdade, que ocorre por volta dos 11-12 anos nas raparigas e entre os 13-14 nos rapazes, mas o seu fim e a respetiva entrada para o mundo adulto não tem um período cronológico bem definido. Isto acontece porque o termo adolescência passou de um sentido restrito para um sentido lato, e é esse conceito mais abrangente que interessa à psicologia do desenvolvimento, onde a adolescência assume sobretudo uma conotação psicossocial.
Neste blog usaremos o conceito moderno de adolescência, ou seja, uma etapa do desenvolvimento humano onde para além de todas as mudanças biológicas ocorrem inúmeros ajustes a nível pessoal e social, onde o indivíduo procura edificar a sua identidade, e luta pela sua independência e autonomia.
À semelhança do que fizemos anteriormente, vamos contextualizar algumas das varias dimensões do desenvolvimento ao longo da adolescência. Optamos por abordar o desenvolvimento físico e cognitivo, e vamos tentar de forma implícita relacionar o desenvolvimento sócio-afetivo com essas duas dimensões.

Desenvolvimento Físico

Como referimos anteriormente a entrada na adolescência é marcada pelo início da puberdade. Durante esta fase ocorre uma multiplicidade de transformações fisiológicas que têm um impacto profundo na imagem e capacidade física do adolescente.
Estas mudanças são progressivas e ocorrem num período de 3 a 4 anos, no entanto o crescimento rápido de certas áreas do corpo resultam numa fase em que o adolescente parece descoordenado e pouco proporcionado. Por exemplo nos rapazes existe um rápido crescimento das pernas e dos braços em comparação com o tronco, já nas raparigas o crescimento resulta em ombros estreitos e ancas largas, e pernas curtas comparativamente ao tronco.
É muito importante estar atento à forma como o adolescente reage às mudanças na sua imagem, porque nesta fase as reações e atitudes dos outros têm um impacto significativo na construção da sua identidade. Os adolescentes são muito sensíveis a estereótipos e padrões de beleza, e a perceção que têm do seu corpo tem um efeito determinante na sua auto-estima. Normalmente estes problemas têm tendência a desaparecer com a definição da sua identidade, que também ocorre na adolescência, no entanto por vezes uma má relação com a sua aparência física pode ter efeitos devastadores na formação da sua personalidade, resultando em depressões, tendência para o isolamento e distúrbios alimentares.
Durante a puberdade, para além das mudanças visíveis de crescimento a nível ósseo e muscular, também ocorre um aumento do tamanho do coração e dos pulmões, o que resulta numa capacidade para desempenhar atividades físicas mais exigentes. Este aumento das capacidades físicas, aliado a uma sofisticação cognitiva (que já iremos explicar com maior pormenor), torna esta época muito propícia para o treino de técnicas específicas das modalidades desportivas.
A puberdade também representa a maturidade sexual. O adolescente adquire a capacidade de se reproduzir devido à evolução do sistema reprodutor. As raparigas têm a primeira menstruação, e os rapazes desenvolvem a capacidade de ejaculação. Para além destas mudanças, destacamos também  o aumento do tamanho do pénis nos rapazes e o aumento dos seios nas raparigas. Os adolescentes são particularmente sensíveis a estas mudanças já que simbolizam a sexualidade.

Desenvolvimento Cognitivo

Segundo Piaget é por volta dos 12 anos (que coincide com a entrada na adolescência), que se entra no ultimo estádio de desenvolvimento cognitivo. Iremos abordar as teorias de desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget com maior pormenor em futuras publicações, para já fica apenas a referência que o último estádio de desenvolvimento é o estádio operatório formal.
O amadurecimento biológico do adolescente torna possível a aquisição de uma nova forma de pensar. Com o inicio do pensamento formal, o adolescente passa a ser capaz de raciocinar de forma lógica e abstrata, e é esta nova capacidade de realizar operações a um nível conceptual e verbal que lhe permite avaliar o mundo de uma forma completamente diferente. De facto é nesta fase que se torna possível o pensamento hipotético-dedutivo, e com esta nova capacidade o adolescente transforma-se num agente ativo de mudança e passa a criar hipóteses para solucionar problemas. Esta é a fase das reflexões, das ideias e das possibilidades, onde o planeamento do futuro assume especial importância na sua vida. Existe a necessidade de criticar a realidade em que vive e lutar por um mundo justo que esteja de acordo com as suas crenças, e é esta forma de ver o mundo que faz dos adolescentes a esperança da evolução social. No entanto esta forma de pensar e ver o mundo é muitas vezes exagerada, segundo Piaget, nesta fase da vida a possibilidade é mais importante do que a realidade, e o sentimento de que têm a solução para todos os problemas resulta num egocentrismo cognitivo. Com o amadurecimento o adolescente vai percebendo o que pode e o que não pode fazer, e é muito importante nesta fase ajudar a gerir as expectativas pois o idealismo inicial pode dar agora a uma sensação de frustração e impotência, quando percebe que nem sempre pode gerar a mudança que quer ver no mundo.
O sistema de valores também sofre alterações, as mudanças a nível intelectual e cognitivo passam a criar a tendência para questionar os conhecimentos adquiridos, o que pode por vezes criar conflitos dentro da família.

Conclusões Gerais

Como demos a entender na nossa introdução, a adolescência é sem duvida uma fase de grandes mudanças, que acabam por ser bastante favoráveis à pratica do exercício físico já que existem melhorias em várias dimensões. O adolescente fica com maior capacidade física e com um desenvolvimento intelectual superior, que lhe permite agora compreender e executar tarefas mais complexas a nível do treino.
No entanto esta é também uma das fases mais problemáticas da vida do individuo. Nesta fase onde a sua identidade ainda está em construção (iremos falar mais sobre isto nas próximas publicações) o adolescente está sujeito a enormes pressões e influências por parte da sociedade, com especial importância nas  relações de pares.
Talvez um dos aspectos mais problemáticos é que todas as mudanças não ocorrem ao mesmo tempo em todos os indivíduos. Um bebé por exemplo, não está minimamente preocupado se começa a caminhar mais tarde do que outro bebé, até porque nem tem capacidade para ter essa perceção. Já para o adolescente uma maturação precoce/tardia pode ter um impacto profundo no seu bem estar emocional, dependendo do feedback positivo ou negativo que recebe nas suas interações sociais.
Estudos revelam que a competência atlética e a aparência física desempenham um papel determinante na aceitação social. Os adolescentes mais competentes são mais facilmente aceites pelos pares, enquanto que os jovens com menos capacidades para além de terem uma maior dificuldade de integração também recebem menos oportunidades de se divertirem no jogos pois raramente são escolhidos para participar em atividades desportivas. Isto por sua vez pode conduzir a uma baixa auto-estima e ao afastamento precoce do desporto. Normalmente os rapazes são mais afetados por uma maturação tardia, já que isso vai afetar a sua competência física, por outro lado as raparigas são mais afetadas pela maturação precoce, devido ao aparecimento da menarca.
Como treinadores e professores para além de reprovar comportamentos negativos, como gozo entre os adolescentes, temos de apoiar os alunos e atletas de forma a reduzir as suas preocupações com o seu crescimento físico e sexual. Por outro lado temos de refletir sobre as nossas práticas e analisar se nós próprios não estamos a contribuir para realçar as diferenças que existem a nível maturacional. Por exemplo ao permitir a escolha de equipas por parte dos alunos, é muito comum os menos desenvolvidos ficarem para o fim pois têm menos capacidades, e ao permitir isto estamos a contribuir de forma indireta para a redução da sua auto-estima. Por outro lado, ao orientarmos o treino ou a aula de forma igual para todos os alunos, sem ter em consideração o seu nível de desenvolvimento podemos estar a criar frustrações para os que ainda não são capazes de realizar aquelas tarefas.
É portanto muito importante em primeiro lugar tentar promover valores como auto-superação para que todos estejam mais preocupados com o seu próprio desempenho e evolução, e valorizem menos a vitória ou a comparação com o outro, e por outro lado estar atento ao nível de maturação de cada aluno e identificar os seus pontos fracos/fortes e promover estímulos no treino que tirem partido das suas capacidades, de forma a que se sintam competentes e retirem prazer no desporto aumentando assim a auto-confiança, a auto-estima, e o seu envolvimento em atividades desportivas, que por sua vez facilitam a integração social.

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