terça-feira, 8 de maio de 2012

Desenvolvimento ao longo da infância e adolescência (Parte I)

Ao longo das próximas publicações deste blog vamos debruçar-nos sobre o tema "Desenvolvimento ao longo da infância e adolescência".
Em primeiro lugar é importante referir que quando falamos em "desenvolvimento" estamos a considerar todos os aspetos deste processo, de forma a poder estudar o Homem como um todo. Logo se tivermos em consideração que o ser humano é de todas as espécies que habitam a Terra, a que demora mais tempo a atingir a maturidade, podemos facilmente adivinhar que estamos a falar de um processo bastante complexo. Por esse motivo é necessário estudar todos os aspetos físicos, cognitivos, emocionais, sociais e morais da evolução da personalidade do individuo, bem como analisar cada um deles em função da respectiva faixa etária.
Durante muito tempo as crianças foram consideradas "adultos em miniatura", no entanto sabe-se atualmente, e em grande parte devido aos contributos de Jean Piaget, que existem entre eles diferenças qualitativas. Ou seja, a forma de adquirir e estruturar conhecimento é feito de forma diferente à medida que vamos crescendo, e isto deve-se em parte ao processo de maturação do nosso organismo. Aliás esta é uma das possíveis explicações para o facto de as nossas memórias de infância irem apenas até aos 4 anos de idade. Estas diferenças podem ser tão significativas que uma simples diferença de 2-3 anos entre duas crianças podem significar formas bastante diferentes de ver e interagir com o mundo.
Mas já voltaremos a estes temas com maior pormenor, para já vamos começar por falar um pouco sobre o desenvolvimento físico.

Desenvolvimento Físico

Como se pôde perceber pela nossa breve introdução, o desenvolvimento é algo bastante complexo e existe a necessidade de dividir o estudo pelos vários aspetos que o compõem, bem como ter em consideração a faixa etária em que o individuo se encontra. Nesta primeira fase vamos abordar o desenvolvimento físico da criança, mais precisamente do recém-nascido.
Antes de mais, é importante esclarecer que desenvolvimento físico inclui o desenvolvimento motor, sensorial e nervoso. Optamos no entanto por falar com mais pormenor sobre o desenvolvimento motor e sensorial.

Desenvolvimento Motor

O desenvolvimento motor das crianças é feito de forma progressiva e sequencial, ocorrendo mais ou menos na mesma altura em cada criança. Importa no entanto salientar que o desenvolvimento motor é influenciado pela maturação biológica, que por sua vez é estimulada pela prática e estímulos do meio, como já vimos nas publicações anteriores deste blog. Por esse motivo o desenvolvimento motor pode variar um pouco de cultura para cultura, devido à diferença de estímulos. Ou seja uma criança pode começar a andar um pouco mais tarde do que outra, embora nada de muito significativo, mas o que nunca ocorre é alterações na sequência da evolução. Uma criança vai sempre aprender a sentar-se antes de aprender a gatinhar, e vai aprender a gatinhar antes de aprender a andar etc
Na imagem seguinte podemos ver mais ou menos a sequência das aprendizagens das capacidades motoras de uma criança, mas mais uma vez relembramos que embora cada fase ocorra sensivelmente na mesma idade em todas as crianças, uma evolução ligeiramente mais tardia não significa problemas de desenvolvimento.

























Neste momento já temos uma ideia geral de como se processa o desenvolvimento ao longo do tempo, mas vamos focar agora a nossa atenção em fases mais especificas, mais precisamente no momento do nascimento.
As capacidades motoras do recém-nascido nos primeiros dias de vida caracterizam-se essencialmente por um conjunto de reflexos inatos. Uns mais direcionados para a sobrevivência como respirar, engolir ou sugar, e outros mais primitivos como nadar ou agarrar objetos (podem ser os dedos de uma pessoa) que entrem em contacto com a sua palma da mão. Os reflexos direcionados para a sobrevivência mantêm-se ao longo da vida, já os primitivos têm tendência a desaparecer no primeiro ano de vida.
O desenvolvimento motor do bebé para além de sequencial como já referimos anteriormente, também segue  uma determinada tendência direcional, como se pode ver na figura seguinte:



Nesta imagem estão ilustradas 2 tipos de progressão:


Progressão Céfalo-Caudal: O desenvolvimento ocorre primeiro da cabeça para os pés (por exemplo os bebés controlam primeiro os movimentos da cabeça, e só mais tarde as mãos e os pés)

Progressão Próximo-Distal: O desenvolvimento avança do centro do corpo para a periferia (por exemplo a criança ganha primeiro controlo sobre o tronco e só depois braços e mãos)

Existe outro tipo de progressão que não está ilustrado na figura:

Progressão de ação concentrada para específica: Como o próprio nome indica, o bebé vai sendo capaz de efetuar movimentos mais precisos. Isto acontece porque existe uma evolução dos grandes para os pequenos músculos, e por este motivo os bebés começam a ser capazes de manipular objetos com maior controle por exemplo.

Agora que já temos uma pequena ideia de como se processa o desenvolvimento motor das crianças nos primeiros anos de vida, achamos que é também interessante ter uma ideia de como os bebés "vêem o mundo". Para isso vamos analisar o desenvolvimento sensorial do bebé.

Desenvolvimento Sensorial

Será que um bebé quando nasce já tem uma perceção do mundo equivalente à de um adulto?

A resposta é não. De facto alguns dos sentidos já se encontram desenvolvidos ainda antes do nascimento. Por exemplo estudos revelam que os bebés reagem de forma diferente quando ouvem histórias pela primeira vez, em relação a histórias que já tinham ouvido no útero. Através de um método experimental denominado "high amplitude sucking" os bebés chupam mais o mamilo que ativa a gravação da história que já ouviram no útero, sugerindo que preferem essa história.
O paladar parece também estar bastante desenvolvido à nascença uma vez que os bebés distinguem entre o doce e o amargo, e preferem o doce. Esta preferência pode ser vista facilmente como um mecanismo de sobrevivência já que o leite materno é bastante doce, e normalmente as substâncias tóxicas são amargas.
O olfacto também já se encontra bastante desenvolvido. Após alguns dias o recém-nascido que esteja a ser amamentado dá clara preferência a compressas com o odor do seio da sua mãe, em relação a compressas com o odor de outras mulheres que também estejam a amamentar, sugerindo que o olfato pode ser usado para reconhecer parentesco.
No que diz respeito ao tacto, os bebés parecem ter já alguma sensibilidade à pressão, à dor e à temperatura.
É na visão que o recém-nascido parece estar menos evoluído. A sua capacidade de focagem não vai além dos 30cm (é como se o bebé fosse "míope"). Inicialmente as imagens são manchas pretas e brancas em tons de cinzento, e só depois começa a identificar o vermelho, depois o verde, e por ultimo o azul e o amarelo, só mesmo a partir dos 6 meses é que consegue ter uma perceção das cores idêntica à de um adulto.
No entanto mesmo com todas estas dificuldades, o bebé já tem alguma perceção de padrões e formas, preferindo claramente padrões em movimento e faces humanas, e desde que gatinham (6-14 meses) já têm alguma noção de profundidade, o que pode ser útil por exemplo para evitarem quedas.
Todos os sentidos vão sendo refinados com o passar do tempo, especialmente ao longo dos primeiros 2 anos, já que durante este tempo os sentidos são o principal meio de interação do bebé com o mundo, como já iremos ver mais tarde quando abordarmos o tema "desenvolvimento cognitivo da criança".

Nota sobre esta publicação

Como prometido inicialmente, e como tem sido hábito ao longo deste blog, damos sempre a nossa perspetiva como futuros profissionais na área do desporto. No entanto como esta publicação está muito relacionada com o recém-nascido e não vamos obviamente iniciar um bebé na prática desportiva é difícil estabelecer uma relação com a nossa área profissional, para além de que nesta fase da vida são os pais que estão com os bebés. Achamos no entanto que se trata de um tema bastante interessante, e dai esta publicação.
A única coisa que podemos fazer é alertar para todas as mudanças que estão a ocorrer no bebé nesta fase da sua vida, sendo importante fornecer estímulos adequados para um bom desenvolvimento de todas as suas capacidades motoras, mas salvo casos de negligência e maus tratos (relembramos o caso Genie) tudo deverá ocorrer sem problemas.
Futuramente, e como o desenvolvimento motor é deveras importante para qualquer professor de educação física ou treinador, voltaremos a este tema com maior pormenor.

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